Fátima e a criação artística: o Santuário e a Iconografia
O Santuário de Fátima acaba de lançar a obra “Fátima e a criação artística: o Santuário e a Iconografia”, da autoria de Marco Daniel Duarte, que integra a coleção Arte e Património. Os dois volumes que compõem a obra, fruto de uma investigação de duas décadas por parte do autor, perspetivam a arte ao serviço da Mensagem no Santuário de Fátima.
“O livro, nos seus dois volumes, é uma fonte inesgotável, um laboratório de trabalho como Fátima o é” referiu na sessão de lançamento o professor catedrático da Universidade de Lisboa, Vitor Serrão, que assina o posfácio da obra.
O historiador de arte defendeu a candidatura do Santuário a Património da Humanidade da UNESCO, pela qualidade do conjunto monumental e artístico aqui existente.
“É um conjunto que concorre, por todos os valores estéticos, espirituais, hierofânicos e artísticos, para uma candidatura a Património da Humanidade que o é, de direito pleno”, pelos “vários contributos da melhor mão-de-obra artística do país e também de alguns artistas estrangeiros”.
O professor catedrático emérito da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa disse encontrar em Fátima “uma inesperada unidade”.
“Para mim, foi uma completa novidade: descobri que aquilo que eu achava que era uma manta de retalhos, de objetos de maior ou menor qualidade, que me apaixonavam mais ou menos, ganham em conjunto uma unidade que é indesmentível”.
A `revelação´ surgiu através da tese que deu origem à obra lançada na quarta-feira, desenvolvida a partir da investigação de base do doutoramento de Marco Daniel Duarte, atual diretor do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima e responsável também pelo Museu do Santuário e completada já depois da sua apresentação e defesa.
Vítor Serrão, que integrou o júri da prova de doutoramento de Marco Daniel Duarte, classificou a publicação agora lançada em Fátima como “uma obra monumental”, que “conta, como nunca foi contado, a história artística de Fátima”.
“O melhor da história da arte em Portugal, o melhor da mão-de-obra artística em Portugal, trabalhou para Fátima. Artistas crentes e não crentes”, sublinhou.
O historiador de arte considerou que “a qualidade da arquitetura, da pintura, da escultura, dos vitrais, do mobiliário litúrgico e da demais arte” torna Fátima “mais do que um mero lugar de culto e de hierofanias e de grandes movimentos de peregrinação”.
“Há um equipamento patrimonial e artístico que habitualmente é diminuído, ou pelo menos não é destacado pelo valor que realmente tem, e que importa ver de outra maneira”, afirmou.
Nesse conjunto figuram nomes como António Teixeira Lopes, Irene Vilar, Lagoa Henriques, Zulmiro de Carvalho, Clara Menéres, José Aurélio, Marko Rupnik, Jorge Barradas, Eduardo Nery, Pedro Calapez, Catherine Greene, Robert Schad, Fernanda Fragateiro, entre outros, num “elenco de artistas do melhor escol”, destacou Vítor Serrão.
Em Fátima, encontra-se “um capítulo de grande destaque da arte em Portugal”.
“E quando falo em Portugal, falo efetivamente numa escala mundial”, especificou.
O Santuário acompanhou “as curvas de vanguarda artística do mundo”, tendo “escolhido a melhor mão de obra, os melhores artistas em cada género, ativos em cada momento”.
Vítor Serrão considerou ainda que “a arte fatimista, a arte gerada em Fátima, é uma arte para crentes e não crentes”.
“Tem uma perspetiva global do entendimento estético e que continua a evoluir, continua a acompanhar as curvas de modernidade do mundo artístico, o que é muito importante”, concluiu.
O Reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas, que abriu a sessão lembrou que “a linguagem da arte e a via da beleza são caminho imprescindível no Cristianismo” e a “mensagem de Fátima foi ao longo de cem anos e, ainda hoje é, fonte de inspiração para a linguagem artística”.
Também o bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas Carvalho, falou da verdadeira “peregrinação artística do belo em Fátima” que permite a “compreensão do próprio percurso da fé” neste lugar.
“As criações artísticas são a melhor expressão da fé” sublinhou o prelado.
O autor, por sua vez, ao usar da palavra, explicou o caminho da investigação, iniciada em 2001, no Santuário, que é também para si uma “verdadeira alma mater” onde se juntam as estradas do caminho profissional, académico e pessoal e espiritual.
“Nenhum responsável do Santuário, até aos nossos dias, deixou de convocar a arte e os artistas, fazendo com que os artistas e os peregrinos pudessem dialogar” destacou Marco Daniel Duarte que dedicou este trabalho “aos peregrinos do belo”.
O primeiro volume está ligado à estruturação do Santuário de Fátima, ao longo de um século, com as suas construções físicas – desde o arco que marcava o lugar da mariolaria até à construção da Capelinha das Aparições e das basílicas, da praça e da colunata. O segundo volume é composto pela organização da reflexão artística, a partir da criação de novas figurações que têm lugar a partir de Fátima – a construção da imagem de Nossa Senhora de Fátima e das imagens: do anjo de Fátima, dos próprios Pastorinhos e até do peregrino, disse ainda o autor à sala de Imprensa do Santuário.
“Esta obra mostra que o Santuário se posicionou sempre a par daquilo que eram as diretrizes das grandes manifestações artísticas de cada tempo, quer nas obras de arte mais antigas, (…) quer naquelas que já marcaram o passo com o século XX (…) até às linhas pós-modernas minimalistas da Basílica da Santíssima Trindade”, sintetizou Marco Daniel Duarte
“Aquilo que se conclui com esta obra é que, de facto, os melhores artistas trabalharam neste lugar e produziram obra de arte de e a partir de Fátima. Todos os intervenientes que governaram este lugar, desde a primeira hora, estiveram sempre muito preocupados com a questão da beleza, que leva a fazer obra para estar ao serviço daqueles que aqui peregrinam”, disse o autor.
A obra é prefaciada por Regina Anacleto, docente jubilada da Faculdade de Letras, que, no início do livro destaca a “solidez da investigação como o contributo decisivo deste trabalho, ora para a fixação analítica da história do Santuário, ora para a evolução dessa história e sua projeção no futuro”.
Marco Daniel Duarte é formado e doutorado em História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É diretor do Museu e do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima. É académico da Academia Portuguesa da História e correspondente da Academia Nacional de Belas-Artes, sendo ainda membro da Associação Portuguesa de Historiadores da Arte e do Departamento do Património Cultural da Diocese de Leiria-Fátima.